quinta-feira, 14 de maio de 2009

Momento Guia de Ruas

Avenida Paulista. Cartão postal de São Paulo. Avenida central, conhecida por todos. Um dos centros comerciais de sampa, local de grandes empresas e escritórios. Um lugar bacana pra se passear aos fins de semana. Só aos fins de semana. Durante a semana, é um lugar horrível, cheio de espécimes da pior origem. Se você resolver caminhar por lá em torno das 13h, tudo bem, vocês os encontrará em menor número, não será obrigado a sofrer todas as vicissitudes de estar no mesmo ambiente que estes seres. Porém, se resolver fazê-lo às 18h, meu amigo, aguenta o parabéns (tm). Pra restar um pouco mais claro o que disse, resolvi enumerar algumas dessas espécimes, somente para ilustração. São elas:

  • espécime "clipe do The Verve": Já assistiu aquele clipe antigo do The Verve, "Bittersweet Symphony"? Pois é, aquilo se passa na Avenida Paulista. O problema é que no clipe eles só retratam um cara. No dia a dia, essa espécime se apresenta em um número absurdo. Esse animal costuma demonstrar completo desconhecimento das leis da física e, acredito eu, acham mesmo que dois corpos podem ocupar o mesmo lugar no mesmo instante. Tanto acham que são capazes de cortar de um lado ao outro da calçada somente para abrigar-se no mesmo centímetro quadrado em que você se encontra naquele instante. Dizem, alguns pesquisadores, que essa espécime apresenta um grau razoável de cegueira e, por isso, ignoram outro ser vivo vindo em sua direção e o abalroam com toda a força que o divino lhes concedeu. Ao percebê-los, fique longe de paredes, pois, senão, terá uma chance menor de escapar de um acidente.
  • espécime "uso camisa e gravata, tenho uma mochila, estou atrasado, sou estagiário": Uma espécime de vida curta, algo em torno de cinco anos. Porém, cinco anos bem vividos, intensos. Um ser muito ágil e rápido, costuma ser visto carregando toneladas de coisas. Aparentemente inofensivos, estes pequenos seres são capazes de tudo para não perder um ônibus, atravessar uma rua há cinco segundos para abrir o farol, pegar a última mesa disponível no McHorror ou pegar o elevador lotado para o 14º andar do TRF. Por serem ágeis, são capazes de entrar em um ônibus ou elevador onde você poderia jurar que não caberia uma joaninha. Costumam andar rápido na Paulista, quase trotando ou praticando marcha olímpica. Costumam estar sempre ao celular, gritando no seu ouvido quando param ao seu lado no farol. Juntamente com a espécime anterior, talvez por falta de calor humano, costumam passar rente a você, bem rente, quase trocando energia cinética.
  • espécime "turista ou carioca morando em SP": Por mais que você ache difícil, é sempre possível ver ao menos um exemplar dessa espécime por dia. Oposto da espécime "estagiário", costumam andar vagarosamente. Talvez para apreciar a paisagem (sei...) ou simplesmente porque estão depressivos por terem se mudado para sampa. Por não possuírem uma afinidade grande com esta cidade, desconhecem a presente divisão de espécimes e consideram que só uma existe, o "paulista". Por isso, andam com olhar de quem acabou de ver o ET de Varginha a todo instante e demonstram um medo descomunal ao atravessar uma rua, na certeza de que serão atropelados por um "paulista", que, no linguajar desses seres, significa "doido varrido sempre atrasado com CNH vencida".
  • espécime "como controlo essa coisa": Só aparecem na chuva, ou seja, ao menos três vezes por semana. São ferozes e andam sempre armados com um instrumento chamado guarda-chuva (guarda pra quê?!). Porém, o problema é que esses seres ignóbeis não sabem como utilizar um guarda-chuva, o que os torna mais perigosos ainda. Assim, não basta o fato de voltar para casa ensopado por conta de uma chuva que o SPTV não previu, você ainda precisa brincar de Matrix com esses tipos, desviando de suas investidas. Alguns dessa espécime cobrem o rosto com o guarda-chuva e abstraem completamente o mundo ao seu redor, esbarrando frequentemente nos outros e os cegando com aquelas coisinhas que colocam na ponta do guarda-chuva. Outros, brincam com o guarda-chuva, jogando-o de um lado pro outro, rindo dos outros transeuntes que tentam, sem êxito, desviar dessa arma.
  • espécime "nos encontramos embaixo do MASP": Espécime mais diversificada, podem ser confundidas com hippies, punks, metaleiros, estudantes de segundo grau ou batedores de carteira. Trafegam pela Paulista como seres superiores, que não se entregaram à malha social desfuncional da alta sociedade. Para os fumantes, são a pior espécime, pois sempre vão lhe pedir cigarro ou isqueiro e aproveitam esse momento para lhe oferecer uma pulseirinha, bater um papo com você (que não tem interesse nenhum nisso) ou tomar algo de você, nem que seja mais um cigarro. Para surpresa geral da nação, convivem amigavelmente uns com os outros no vão do MASP, sob os olhares atentos dos homens da lei. Quando carregam um violão, conseguem ser mais insuportáveis ainda.
  • espécime "os maiores sucessos do Kenny G tocados com um barbante, um elástico e uma folha de bananeira": A espécime mais inofensiva de todas. Ao menos, inofensiva às partes do corpo não ligadas ao sistema auditivo. Prestam-se somente para apresentar clássicos do cancioneiro reciclável mundial em performances de saxofone desafinado, violão sem a corda Lá, gaita pior que Alanis Morrisete ou flauta doce que vinha encartada em alguma revista dos anos 80. Acham que recebem trocados por reconhecimento, quando na verdade estão sendo pagos simplesmente para pararem de incomodar.
Óbvio que existem mais espécimes, contudo, não me vem mais nada à cabeça que não uma vontade incontrolável de tomar uma Heineken. Por isso, leiam atentamente esse texto e preparem-se para a hora do rush na Paulista, este lugar tão agradável, cheio de vida e cor, coração e pulmão de São Paulo (não me espanta a cidade estar uma joça).

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