segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

tá afiado. e...?!

então, ninguém tá bem de verdade. conforto é o que mais se procura e o que menos se conquista. é a cadeira que dá dor nas costas, é o cinto de segurança que atrapalha, é o sofá que está pequeno, é a casa que nunca está arrumada... sintomas ou percepções? talvez se não fossemos capazes de nos adaptar, conheceríamos muito mais sobre nós mesmos e não teríamos dúvidas de que é tudo um sintoma do que passamos e sentimos. não nos sentimos presos à toa, nem pequenos ou grandes, com dores e feridos. enfrentamos muito mais do que uma fila no banco, uma conta alta no almoço ou um chefe carrancudo. todo dia, após exercemos nossos deveres perante os outros, encaramos o restante das horas conosco. brigamos, discutimos e ofendemos a nós mesmos. é o embate mais cruel que todos encaramos no dia. esqueçam guerras mundiais e afins! o negócio pega mesmo é quando batemos o olho no nosso reflexo. já cheguei a pensar, no fim de uma noite em que a solidão bebeu por mim, em parar de me olhar no espelho. entrei no elevador decidido, fiquei de costas até o meu andar. entrei em casa, fui ao banheiro e a primeira coisa que vi foi meu reflexo no espelho, me observando de canto de olho, como quem tem nojo de olhar a própria bosta na privada. até agora, ele sempre ganhou de mim. quer dizer, eu ganhei. não! ele, que sou eu. outro eu. talvez mais eu do que eu mesmo. enfim... não consigo convencer a mim mesmo. tenho argumentos ótimos pra me contestar, fatos verídicos pra me refutar e inúmeras verdades pra me censurar. e não basta a tristeza de me sentir um brinquedo que é deixado encarando a prateleira ao invés dos clientes, no final vem ele (eu) me dizer que isso é culpa minha, que pago pelo que consumi... agora, diga, de todas as frases de vó que ouvimos na vida, tem alguma que tenha doído mais que "você colhe aquilo que planta"? pôxa, peço perdão pela expressão, mas vai tomar no cu! no cu! nem chute no saco dói mais que sentimento de culpa. plantar essa frase na mente de uma criança é sacanagem. tudo pra que, quando cresça, saiba que a dor de cabeça não é pela ressaca de quem bebeu demais pra esquecer a garota que amava e perdeu. é pela cagada que fez quando tudo que precisava era conquistar a confiança dela. daí, horas extras no trabalho pra esquecer da vida, busca incansável por um salário maior pra gastar com um home-theater e uma poltrona que massageia. tudo atrás do conforto que nos engana (ao menos, deveria) e faz parecer que assistimos a um filme porque parece bacana e não porque o enredo ou a trilha nos lembra essa ou aquela pessoa que perdemos por própria culpa. o pior são os malditos que devem ter passado por isso e decidiram foder com a cabeça dos outros e criaram essa história de "basta querer", "você pode tudo", "tenha fé em si próprio" e o caralhaquatro. pronto, mais briga na cabeça do pobre coitado. ele, que era obrigado a lidar com o sentimento de culpa, passa a lidar também com o sentimento de incapacidade. porra, eu caguei, fiz merda, acabei com a minha vida e agora tenho que mudar tudo, mas me sinto mais bosta ainda, pois tudo depende de mim e eu não consigo fazer nada. legal!

ah, mas fiquei sabendo de algo ótimo pra nós, derrotados e solitários. estudo diz que mau humor e tristeza afiam a inteligência. tipo, nós sofremos para caramba, morremos de solidão e cirrose, mas temos a cuca afiada. por outro lado, quem é feliz nem tem que pensar muito. logo, foda-se o fdp que disse isso. podia mesmo era dizer que bebida e drogas não fazem mal. ia tirar um peso bem maior das costas desses miseráveis culpados e incapazes.

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