domingo, 1 de fevereiro de 2009

Reflection In His Sunglasses

Certa vez, conheci um cara. Um jovem com ideais e valores bem resolutos. Tinha uma leve tristeza no sorriso e uma infinita alegria no olhar. Costumava rir do que não lhe era garantido, até porque sabia que não o faria desistir. Possuía um coração quase infantil, de tão verdadeiro e vivo. Transpirava um charme enorme, não sensual, mas sim fraternal. Conquistava a todos com sua breve rabugência, chatice, bom humor e inteligência. Alguém capaz de te segurar por uma vida sem vontade de ir ao banheiro. Apaixonante e intragável, ambos na medida certa.
Em um dado momento, passou por alguns acontecimentos desagradáveis. Momento este em que descobriu pessoas e coisas que lhe mudariam irreversivelmente. Viu com seus próprios olhos o que sempre desejou e nunca teve coragem de assumir. Sentiu-se vivo como nunca, completo e verdadeiramente único. Porém, como toda boa droga, os efeitos colaterais são o que lhe fizeram querer tanto a ponto de não querer nunca mais.
Fiquei sabendo que esse rapaz conseguiu escapar de tudo, manteve-se intacto na batalha e fugiu pra algum lugar seguro. Ele escapou, e deixou pra trás aquilo que me sorri satiricamente no espelho. Deixou uma carcaça em eterna crise de abstinência, sem presente ou futuro. Uma armação alienígena, sempre a buscar, sempre a pensar, nunca contente, nunca viva.
Um arcabouço, um buraco que sonha com janelas e portas cerradas, com finais infelizes e cadeiras vazias, com banheiras e secadores de cabelo, com ela e com ele.
Aquele cara escapou, sobreviveu, está seguro. Acredito que não deva nunca voltar.

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