terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

You Are The Blood

- Alô.

- Oi, liguei porque queria conversar contigo.

- Nossa, que ótimo. Há tempos esperava isso. Pensei que nunca mais ouviria sua voz. Pensei em ti todo esse tempo. Não vejo a hora de nos encontrarmos. Pode ser onde quiser, quando quiser. Adianto que, mesmo pelo telefone, me sinto uma criança novamente, ouvindo sua voz. Parece até que estou milhas acima do nível do mar, flutuando, o ar rarefeito... Enfim, que bom. Adoraria conversar.

- Ah, sim. Então, fica pra uma outra semana. Até.

- Hã... sim! Ok. Até!

Saco, preferia ter continuado vivendo sozinho. Quer dizer, preferia ter vivido na vã esperança de voltar um dia a dividir meus sonhos com ela a viver com uma esperança frustrada, com a sensação de rejeição mais forte que anteriormente, mais perto que antes, bem mais longe que antes, angustiado, ansioso, na incerteza de agir dessa ou daquela forma, muito mais sem ela do que nunca me senti. Inferno, me arrependo de, nos piores dias desde que tudo aconteceu, ter desejado somente saber notícias dela, somente ter uma palavra, somente uma visão. Agora, mais que nunca, minha garganta arranha com a vontade de entregar tudo isso a ela, mostrar-lhe as cicatrizes, as fotos espalhadas, os cigarros fumados, as dores sofridas, a vida abandonada, a solidão adquirida... Acho melhor não desejar somente que ela saiba disso. Melhor esquecer tudo, voltar ao primor que é a minha tristeza, ao saboroso estado moribundo em que vivia quando lhe desejava somente um "oi".

- Hey, tá falando sozinho?!

- Não, só estava desejando morrer...

- Ah, bom... Qualquer coisa que precisar, me chame.

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