domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sei chorar

Tinha a crença de já ter vivido tudo, provado tudo, abusado de tudo e até estragado tudo. Foi quando ela aconteceu. Pra ele, nada valeria se não conseguisse somar nada à pessoa e, ao mesmo tempo, somar algo pra si próprio. Pensava que não conseguiria viver com alguém sem a mínima chance de sair daquilo com a bagagem maior.

Durante o começo, não via necessidade de pensar nisso. Estava bem, contente, satisfeito em andar ao lado dela. Costumavam não dar as mãos, o que, para os outros, era algo estranho, e para eles caracterizava a intenção inconsciente de não comungarem tão rapidamente. Ademais, aqueles corpos mantinham-se tão próximos entre quatro paredes que o fato de não darem as mãos se tornava tão importante quanto pensar em que horas iriam voltar para suas casas.

Isso tudo durou pouco mais de mês, até o dia em que sentiu falta de algo. Enquanto pensava em quando seria o encontro mensal que tinha com seus amigos, notou certa apatia naquele ato. Parecia que não mais importava sentar em um bar, tomar litros de cerveja, conversar sobre os assuntos mais mundanos e divertidos, sair carregado e ter certeza que aqueles caras eram exatamente como ele.

Ele tinha perdido a vontade de socializar-se, somente lhe importava acabar a noite ao lado dela. Não tinha mais coragem, tinha medo de perdê-la. Não tinha mais força de vontade, não correria atrás de nada que não aquilo que tinha encontrado. Havia perdido a vontade de conquistar mais, sentia que não importava o que poderia ter ao seu lado, mas sim quem ele queria ter. Já não era mais uma pessoa batalhadora, sentia que não havia mais nada a ser conquistado. Não tinha mais sossego ao dormir, pois sabia que um dia poderia acordar sozinho. Não era mais uma pessoa honrada, pois passaria por cima de qualquer um para mantê-la consigo. Não se sentia completo, pois parte de si encontrava-se naquela garota. Não sentia-se mais são, pois tudo que pensava tinha o perfume, o rosto ou a lembrança dela. Sentia-se afásico, pois houvera perdido a habilidade de comunicar-se, apenas admirava-lhe. Achava que estava sempre doente, com alguma mazela que só ela sabia a cura. Não tinha mais amor a vida, morreria, se assim fosse necessário, para que ela vivesse.

E por mais extenuante que a vida a lado dela fosse, não pensava que seria melhor acabar tudo. Não importava dormir enraivecido pelo que ela lhe havia dito, pois sempre acordava feliz. Aquele rapaz nunca deixou de pensar que não conseguiria viver com alguém sem a mínima chance de sair daquilo com a bagagem maior, mesmo havendo perdido tudo com ela. Ele, que havia vivido tudo, aprendeu que não há como racionalizar o amor, ou mesmo vivê-lo e, quiçá, sentí-lo. Para ele, o amor era aquela garota com o sorriso especial e a fala agradável, e quando ela fosse embora nada mais seria a mesma coisa.

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