quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Needle in the Hay

Meus dentes doem. É difícil comer ou higienizar minha boca. Não posso mastigar, nem esperar que seja bom o que minha boca expele. Engulo tudo, pedaços graúdos e mal mastigados. Minha digestão não encontra maneiras de ser a mesma. Porém, minha fome não muda, continua a clamar pelas mesmas coisas... Completa falta de diálogo entre corpo e mente. Parece mais fácil condicionar o corpo que a mente. Aquele assumiu o aspecto destrutivo que esta, agora, percebe não ser adequado. O corpo quer dor, saliva por decepção. É fruto de um vasto tempo perdido pela mente abusiva que lhe controlava. Irônico, mas a dor de dentes parece demonstrar uma luta inconsciente contra esse martírio. Como se, para não suprir a necessidade latente de fracassos, torna-se incapaz o canal de abastecimento.

Noto o sangue correr pelas gengivas. Sinto-me vivo, e também satisfeito por ver-me em situação tão lastimável. Forço-me tanto para idealizar o chão como base para subir que a única coisa que consigo é não tirar os olhos dele. E, por mais que devesse me rebelar e motivar-me, só me encho de angústia. Às vezes, sonho estar doente, com alguma mazela incurável. Regozijo-me ao ver todos ao redor, no leito do hospital, enquanto o médico pronuncia o doloroso diagnóstico. Todos choram a clara possibilidade de perder-me, e dizem, com aparente certeza, "Ele é capaz de superar tudo". Ao acordar, um sentimento frugal diz que, quando se vê o outro lado, percebe-se o que realmente faz valer a pena viver, que por isso sonho com tal situação periclitante. Óbvio que não bastam mais de dois tragos de cigarro para perceber que não estou em busca de algo que faça minha vida valer. Realmente, quero algo pelo que valha a pena morrer.

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